Para que serve a Reabilitação Vestibular?
Nosso cérebro é a mais maravilhosa das máquinas!
Você já pensou de que maneira conseguimos aprender um novo caminho ou cantar uma nova música? Isso só acontece porque nosso cérebro é capaz de aprender novas alternativas e adquirir novas capacidades como resposta às situações que vivemos no dia a dia. Após esse contato inicial com a nova situação, nosso cérebro precisa passar por algumas mudanças em sua função para que consiga memorizar esse novo conhecimento. Assim, se fizermos um trajeto diariamente, acabamos por memorizar esse caminho e o fazemos automaticamente, quase que sem pensar. Quantas vezes você se flagrou fazendo automaticamente o seu caminho diário quando, naquele determinado dia, precisava ir a outro lugar? Da mesma maneira, se ouvirmos a mesma música todos os dias, aprenderemos sua letra e sonoridade. Se conversarmos sempre com uma mesma pessoa, aprenderemos a reconhecer a sua voz e seremos capazes de associar essa voz à essa pessoa, mesmo por telefone. A essa capacidade que o cérebro possui de moldar-se de acordo com as situações que vivemos, damos o nome de plasticidade neural. Em outras palavras, a plasticidade neural é a capacidade que o nosso cérebro possui de reorganizar suas respostas em função do que sentimos e observamos.
A plasticidade neural nos permite aprender novos comportamentos e acontece diariamente de maneira automática. Da mesma maneira, essa capacidade pode ser utilizada para compensar funções orgânicas que foram perdidas ou danificadas como consequência de uma doença ou lesão. É a plasticidade neural que nos permite, por exemplo, aprender a utilizar óculos e, assim, melhorar a nossa visão. A princípio, a adaptação é difícil, sentimos dores na cabeça, dores nos olhos e até mal-estar e náuseas. No entanto, a persistência do uso leva ao hábito, que acontece rapidamente para alguns indivíduos e demora um pouco mais para outros. Quanto mais tempo usamos os óculos, mais rapidamente haverá a adaptação.
Podemos utilizar essa capacidade de aprendizado a nosso favor no tratamento das tonturas.
Por que temos tontura?
Possuímos três sistemas que nos informam a posição de nosso corpo no espaço: o sistema visual, que nos auxilia a observar alvos visuais, informando a respeito do ambiente em que estamos; o sistema proprioceptivo (músculos e articulações), que informa ao cérebro a posição do corpo no espaço; o sistema vestibular (labirinto), que informa ao cérebro todos os nossos movimentos e nos permite fixar o olhar nos objetos durante o deslocamento do corpo. O labirinto está dentro do nosso ouvido e possui duas partes, cada uma responsável por um tipo de informação – o vestíbulo, que nos informa sobre os movimentos; e a cóclea, que é responsável pela audição.
“Estar em equilíbrio” é uma expressão que significa que existe harmonia de informação entre todos os sistemas envolvidos no equilíbrio e no cérebro. Quando um ou mais sistemas enviam uma informação diferente das demais, surge a desorientação e a tontura. Se o cérebro não recebe ou não consegue aproveitar as informações que recebe do labirinto, temos problemas na manutenção da postura e dos movimentos. O equilíbrio fica dependendo basicamente da informação visual e do sistema proprioceptivo. A pessoa desenvolve novos padrões de equilíbrio e evita movimentos para não sentir tontura.
Com o passar do tempo, essa adaptação errada diminui a capacidade do cérebro utilizar as informações do labirinto e os problemas de equilíbrio passam a ser cada vez piores. Surgem dores musculares e intolerância ao movimento. Como essa pessoa utiliza a informação visual para manter sua postura, ela evita ir a lugares onde há muita informação visual, como os supermercados. A utilização da visão com outra finalidade, que não o seu próprio equilíbrio, deixa a pessoa desorientada, com dor na cabeça, dificuldade de concentração e de leitura. Todo o problema é iniciado a partir de uma falha de informação de um dos sistemas responsáveis pelo equilíbrio.
Como exemplo, imagine uma situação normal de conflito entre o sistema visual e o labirinto: você está parado dentro do carro em uma ladeira, ao lado de um ônibus. O ônibus acelera. Imediatamente, você coloca o pé no freio porque o sistema visual informa o deslocamento e você tem a impressão de que o carro está descendo a ladeira de ré. Em um segundo momento, o seu labirinto informa que o seu corpo não se moveu e, então, seu cérebro “entende” que foi o ônibus que acelerou. Essa situação conflitante e de desorientação, sem a informação correta do labirinto, é o que experimenta diariamente um paciente portador de problemas vestibulares.
E como a plasticidade pode auxiliar nesses casos?
Se houver um problema no labirinto, o cérebro tem dificuldade de interpretar os sinais que informam a respeito dos movimentos do corpo. Aproveitando os conhecimentos sobre plasticidade neural, os cientistas perceberam que as pessoas com problemas no labirinto podem recuperar seu equilíbrio. Desenvolveram exercícios que desafiam o cérebro a buscar alternativas para recuperar as informações de movimento e produzir respostas adequadas. Usando essa capacidade, podemos modificar a forma como o cérebro interpreta as informações que recebe do ouvido com problemas e retornar o corpo ao equilíbrio adequado. Falando de uma forma mais simples, uma bailarina consegue fazer giros rápidos e consecutivos sem se desequilibrar porque treinou seu labirinto para isso: nosso labirinto é treinável!
A esse treinamento foi dado o nome de Reabilitação Vestibular (RV), que nada mais é do que a utilização da plasticidade neural para recuperar o equilíbrio do corpo.
Como funciona a RV?
O treinamento do labirinto por meio de exercícios de reabilitação vestibular atinge altos índices de sucesso em todos os países do mundo, restabelecendo o equilíbrio corporal e evitando quedas. É um método que não tem efeitos colaterais e de fácil realização. Como já vimos, o aprendizado e memorização dependem basicamente desse treino. Para que esses exercícios funcionem, devem ser praticados regularmente. Aos poucos, à medida que o cérebro aprende a utilizar e a integrar as informações que recebe, a tontura começa a diminuir. A dor na cabeça, a tensão muscular e a dificuldade de concentração desaparecem.
No início do tratamento é perfeitamente normal que a pessoa sinta-se ligeiramente tonta durante e após os exercícios. Esse sintoma é necessário para que o cérebro “reaprenda” a interpretar corretamente as informações labirínticas. Durante as primeiras semanas algumas pessoas podem até experimentar uma ligeira piora dos sintomas - isso acontece porque o sistema de equilíbrio está trabalhando continuamente. Com a insistência, o sistema é reestruturado e a tontura melhora.
Há alguns programas especialmente desenvolvidos para o treinamento do equilíbrio e apenas o terapeuta habilitado é capaz de montar um plano de exercícios especialmente para você. Para funcionar, o treinamento deve conter exercícios cuidadosamente escolhidos com base nas suas necessidades. No entanto, nem todas as doenças do labirinto podem ser tratadas por meio da reabilitação vestibular. Portanto, é necessário que o seu médico a indique. Só ele conhece a sua doença e sabe se há ou não indicação dos exercícios de treinamento.
- Posso treinar sozinho?
Como colocado anteriormente, há programas de treinamento. Primeiramente, deve haver indicação do médico e depois a avaliação de um terapeuta habilitado, que pode ser o próprio médico. Alguns desses programas permitem que você seja orientado a respeito dos exercícios e os pratique em casa, retornando periodicamente para avaliar sua evolução clínica. Então, o responsável pela sua reabilitação vestibular pode manter os exercícios ou, se você assimilou os antigos, ensinar-lhe novos, que impliquem novos desafios ao seu cérebro para que você continue progredindo.
Se, durante o período de tratamento, você esquecer alguma série de exercícios ou algum exercício em especial, não se preocupe. Apenas continue fazendo aqueles dos quais você se recorda. No entanto, se você suspender os exercícios por conta própria, sem a orientação do profissional habilitado, você pode perder todo o aprendizado que alcançou até então. Portanto, siga sempre as orientações do seu terapeuta.
Há algumas restrições para a indicação de exercícios de reabilitação vestibular, como limitações físicas ou problemas cervicais, que podem acabar prejudicando o seu problema inicial e sua evolução. Portanto, não se aventure a praticar sem avaliação médica e orientação adequada. E, principalmente, não tome remédios por conta própria.
- Observo que as pessoas idosas não têm bom equilíbrio. Todas têm doença do labirinto?
Nosso organismo sofre os desgastes do tempo e acabamos perdendo a capacidade de enxergar com nitidez, perdendo a força muscular, a mobilidade das articulações e as funções de nosso labirinto, que é o órgão responsável por nossa audição e equilíbrio. A principal manifestação desse envelhecimento é a falta de agilidade e a dificuldade na realização de movimentos rápidos. Percebemos a importância dessa falta de agilidade quando verificamos que a perda do equilíbrio pode causar quedas com fraturas e longos períodos de imobilização no leito. É por esse motivo que é importante tratar o desequilíbrio que aparece com a idade. Esse desequilíbrio não é devido apenas ao labirinto, mas é secundário ao envelhecimento do organismo como um todo.
Como posso ajudar em minha recuperação?
1. A saúde geral deve ser cuidada. Assim, a pressão arterial, as doenças do coração, problemas com o colesterol, distúrbios da tireoide e diabetes devem ser tratados corretamente. O corpo sem doença se torna mais resistente às degenerações consequentes ao envelhecimento.
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Quando estiver em um ambiente que tenha muitos estímulos visuais, como ambientes coloridos, supermercados e shopping center, procure manter sua visão em um ponto fixo, como placas sinalizadoras.3. Utilize sempre o corrimão das escadas e rampas. Não desafie o seu equilíbrio em situações difíceis, como andar no escuro, em passarelas estreitas ou usando sapatos de salto alto.
Você pode se sentir pior da tontura em determinados dias, especialmente se estiver cansado ou preocupado. Nesses dias, procure descansar e relaxar para reduzir o estresse. No entanto, manter-se ativo é o melhor remédio para a melhora rápida da tontura. O movimento é importante para que nosso cérebro reaprenda a manter nossa postura. Certifique-se apenas de que suas atividades sejam desenvolvidas em ambiente seguro. Desenvolva a atividade física que dá prazer, desde que seja leve e seja praticada em períodos regulares. Andar um pouco todos os dias é uma ótima ideia. São recomendados também exercícios como a hidroginástica ou Tai Chi, que são armas poderosas no combate ao desequilíbrio. O exercício fortalece a musculatura, melhora a coordenação e previne as quedas. Não deixe de visitar o seu médico regularmente.
Por que, além da terapia, preciso de acompanhamento médico?
Algumas vezes, é necessário adotar uma medicação de suporte ou mesmo para tratamento de suas doenças de base. Outras vezes, é necessária uma intervenção terapêutica ou cirúrgica. Apenas o seu médico pode lhe orientar em relação às necessidades específicas de sua doença e seu tratamento.
Não deixe de fazer seu acompanhamento médico regular.